Por J. M. DE BARROS DIAS
Vieram das bandas da Germânia, armados com paus e pedras. Tudo o que eles queriam era porrada e ouro. As mulheres também eram cobiçadas, mas só como passatempo. De quem eles cuidavam com desvelo de pai e de avô era das ovelhas. Elas, sim, agasavalham os senhores da guerra sem lamúria, sem dramas, sem nada a apontar.
Isto foi há muito tempo atrás, quando os Godos destruíram cidade por cidade, bairro por bairro, rua por rua, casa por casa, o Império Romano. Os Godos, que nada sabiam do latim, impuseram seus costumes bárbaros onde, em eras irremediavelmente desaparecidas, houve uma das mais florescentes civilizações da Antiguidade.
E hoje? Hoje, os Godos estão instalados entre nós. Falam inglês e são os consumidores mais fervorosos desta época do deus-milhão. Dizem-se católicos mas continuam politeístas, tal como os antepassados. Frequentam o terreiro, disfrutam de Chico Xavier, beijam o Buda, em momentos de estremecimento até se dizem agnósticos.
Dos Godos, instinto e só instinto, nada há a esperar exceptuando a emotividade, o sensualismo e o ânimo de lucro que alimenta as suas taras cotidianas. De um Godo, de todos eles, só a barbárie é o objetivo, só o pau e a pedra são os argumentos para usar numa discussão.
As taras hediondas povoam os sonhos mais húmidos dessa gente. Tudo, nos Godos, é tentativa de satisfação de seus vícios privados, de suas públicas virtudes. Eles são, à imagem dos ancestrais de ária condição, a mole gregária do branco e do preto, do eu e os outros, do bem e do mal, da verdade e da mentira. Os avós dos Godos do nosso tempo já mostraram do que eram capazes. Queimaram livros, mandaram prender estrangeiros, deportaram ciganos e judeus. Construíram Auschwitz, Dachau e Maidanek. Hoje, em nome das razões de Estado, em nome de suas verdades de sacristia, os Godos querem ir muito mais longe. Os Godos da pós-modernidade, cristãos entre as guerras e nazis durante elas, já não querem o mundo. Suspiram pelo domínio das consciências que lhes são adversas. E, em nome de um deus pagão e abjeto, eles já venderam suas almas para conseguirem alcançar tão lúgubre desiderato.
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