Paul Bloom: As origens do prazer

By Portal da Radio

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November 12, 2013

Hoje eu vou falar sobre os prazeres do dia-a-dia. Mas eu quero começar com uma história de um homem incomum e terrível. Este é Hermann Goering. Goering era o imediato de Hitler na segunda grande guerra, o seu sucessor designado. E como Hitler, Goering se via como um colecionador de arte. Ele saiu pela Europa, durante a segunda guerra mundial, roubando, extorquindo e às vezes comprando várias pinturas para sua coleção. E o que ele realmente queria era algo de Vermeer. Hitler tinha dois e ele não tinha nenhum. Então ele finalmente encontrou um vendedor de arte, um vendedor de arte holandês chamado Han van Meegeren, que vendeu para ele um Vermeer maravilhoso pelo equivalente hoje a 10 milhões de dólares. E esta foi sua obra de arte preferida de todos os tempos.

A segunda guerra chegou ao fim, e Goering foi capturado, julgado em Nuremberg e finalmente sentenciado a morte. Então as forças aliadas vasculharam suas coleções e encontraram as pinturas e foram atrás das pessoas que as venderam para ele. E em algum ponto a polícia holandesa chegou em Amsterdam e prendeu Van Meegeren. Van Meegeren foi acusado do crime de traição, que tem por pena a morte. Seis semanas após sua sentença de prisão, Van Meegeren confessou. Mas ele não confessou traição. Ele disse, “eu não vendi uma grande obra de arte para aquele nazista. Eu mesmo a pintei; eu sou um falsário.” Mas aí ninguém acreditou nele. E ele disse, “Eu vou prová-lo. Tragam-me uma tela e algumas tintas e eu vou pintar um Vermeer muito melhor do que o que vendi para aquele nazista nojento. Eu também preciso de álcool e morfina, pois só assim eu consigo trabalhar.” (Risos) Então eles lhe trouxeram. Ele pintou um lindo Vermeer. E então as acusações de traição foram retiradas. Ele teve uma acusação mais branda de falsificação, foi sentenciado a um ano e morreu como um herói para os holandeses. Há muito mais para se falar sobre Van Meegeren, mas eu quero voltar agora para Goering, que foi fotografado aqui sendo interrogado em Nuremberg.

Goering foi, por todos os meios, um homem terrível. Até para um nazista, ele foi um homem terrível. Os seus interrogadores americanos o descreveram como um psicopata amigável. Mas você iria simpatizar com a reação que ele teve quando lhe disseram que sua pintura favorita era na verdade uma falsificação. De acordo com o seu biógrafo, “Ele parecia como se pela primeira vez tivesse descoberto que há mal no mundo.” (Risos) E se matou pouco tempo depois. Afinal ele descobriu que a pintura que ele pensava ser esta era na verdade aquela. Ela parecia a mesma, mas tinha uma origem diferente, era um outro trabalho de arte.

Não foi só ele que ficou em choque. Assim que Van Meegeren entrou em julgamento, ele não parava de falar. E se vangloriou de todas as grandes obras de arte que ele havia pintado e que foram atribuídas a outros artistas. Em particular, “A Ceia em Emaús”, que era vista como a mais bela obra de Vermeer, seu melhor trabalho — gente do mundo inteiro vinha para vê-la — era na verdade uma falsificação. Ela não era aquela pintura, era aquela. E quando isso foi descoberto, ela perdeu todo seu valor e foi retirada do museu.

Por que isso importa? Vocês psicólogos, por que a origem importa tanto? Por que a gente liga tanto para o fato de saber de onde vem alguma coisa? Há uma resposta para isso que muitos dariam. Muitos sociólogos como Veblen e Wolfe diriam que a razão pela qual a origem importa tanto para a gente é porque somos esnobes, porque focamos no status. Dentre outras coisas, se você quer mostrar quão rico você é, quão poderoso, é sempre melhor possuir um original que uma falsificação porque sempre haverá menos originais que falsificações. Eu não duvido de que isso seja um dos motivos, mas eu quero convencê-los hoje de que há mais do que isso acontecendo. Eu quero convencê-los de que os humanos são, até certo grau, essencialistas naturais. O que eu quero dizer com isso é que nós não reagimos às coisas ao vê-las, ou sentí-las, ou ouví-las. Ao invés, nossa reação está condicionada às nossas crenças, mas o que realmente são, do que vieram, do que são feitas, qual é sua natureza oculta. Eu quero sugerir que isso é verdade, não apenas ao pensarmos sobre as coisas, mas como reagimos a elas.

Portanto eu quero sugerir que o prazer é profundo — e isto não é verdade somente para altos níveis de prazer como arte, mas até mesmo os prazeres aparentemente simples são afetados pelas nossas crenças acerca das essências ocultas. Comida, por exemplo. Você comeria isto? Bem, uma boa resposta seria, “Depende. O que é isto?” Alguns de vocês comeria se for carne de porco, mas não de vaca. Alguns comeriam se for de vaca, mas não de porco. Poucos comeriam se for m rato ou um ser humano. Alguns de vocês só comeria se for um pedaço de tofu de cor estranha. Isso não é surpresa nenhuma.

Mas o que é mais interessante é que o gosto que isso tem para você vai depender muito do que você pensa que está comendo. E uma demonstração disso foi feita com crianças pequenas. Como você deixa as crianças não apenas mais dispostas a comer cenoura e tomar leite, mas ter mais prazer comendo cenoura e tomando leite — pensar que eles têm um gosto melhor? É simples, você diz que eles vêm do McDonald’s. Elas acreditam que a comida do McDonald’s é mais gostosa e isso faz com que elas sintam que é mais gostoso.

Como fazer um adulto realmente curtir vinho? É muito simples: sirva-o de uma garrafa cara. Há hoje dúzias, talvez centenas de estudos que mostram que se você acredita que está bebendo algo caro, isso lhe parece melhor. Isso foi feito recentemente com uma visão neurocientífica. Colocaram as pessoas em ressonância magnética, e enquanto elas estavam lá, através de um tubo, elas tinham que tomar vinho. Na frente delas, em uma tela há informação sobre o vinho. Todo mundo, claro, bebe exatamente o mesmo vinho. Mas se você acredita que está bebendo algo caro, partes do seu cérebro associadas com o prazer e a recompensa acendem como uma árvore de natal. Não é que você diga que é mais prazeroso, que você gosta mais, você realmente tem uma experiência diferente.

Ou sexo, por exemplo. Esses são estímulos que usei em alguns de meus estudos. E se você mostrar essas fotos para as pessoas, elas vão dizer que essas sãos pessoas razoavelmente atraentes. Mas quão atraentes você as acha, quão movido sexual ou romanticamente você se sente por elas, está muito associado a quem você pensa que está vendo. Você provavelmente pensa que na foto da esquerda está um homem, e na da esquerda uma mulher. Se essa crença acabar sendo equivocada, isto fará diferença. (Risos) Fará diferença se eles forem muito mais novos ou muito mais velhos do que você pensa. Vai fazer diferença se você descobrir que a pessoa para quem você está olhando com luxúria é na verdade uma versão disfarçada do seu filho ou filha, sua mãe ou pai. Saber que alguém é seu parente geralmente mata a libido. Talvez uma das mais comoventes descobertas da psicologia do prazer é que há mais na beleza do que sua aparência física. Se você gosta de alguém, este lhe parece mais bonito. É por isso que cônjuges em casamentos felizes tendem a achar que seu marido ou esposa é mais bonita do que qualquer outra pessoa acha.

(Risos)

Um exemplo particularmente dramático disso vem de um distúrbio neurológico conhecido por síndrome de Capgras. A síndrome de Capgras é um distúrbio em que você tem uma alucinação específica. Pessoas que sofrem da síndrome de Capgras acreditam que as pessoas a quem mais amam no mundo foram substituídas por cópias exatas. Geralmente, o resultado da síndrome de Capgras é trágico. Pessoas já assassinaram aqueles que amam, acreditando que estavam matando um impostor. Mas há ao menos um caso em que a Síndrome de Capgras teve um final feliz. Ele foi registrado em 1931. “Pesquisadores descreveram uma mulher com síndrome de Capgras que reclamava do seu amante pobre e sexualmente inadequado.” Mas isso foi antes que ela tivesse a síndrome de Capgras. Depois que ela teve, “Ela estava feliz em contar que descobriu que ele tinha um ‘clone’ que era rico, viril, bonito e aristocrático.” É claro, que o homem era o mesmo, mas ela o estava vendo de um jeito diferente.

Como um terceiro exemplo, considere consumidores de produtos. Umas das razões pelas quais você pode gostar de algo é pela sua utilidade. Você pode colocar sapatos nos pés; você pode jogar golfe com tacos; e chiclete mascado não lhe serve para nada. Mas cada um desses três objetos tem um valor maior e além do que ele pode fazer por você baseado em sua história. Os tacos de golfe pertenceram a John F. Kennedy e foam vendidos por 750 mil dólares num leilão. O chiclete foi mascado pela Britney Spears e foi vendido por muitas centenas de dólares. E de fato, há um mercado de sucesso de alimentos parcialmente comidos por pessoas queridas. (Risos) Os sapatos são, talvez, os mais valiosos de todos. De acordo com uma fonte não confirmada, um milionário saudita ofereceu 10 milhões de dólares por esse par de sapatos. Eles são os que foram atirados no George Bush numa coletiva de imprensa anos atrás.

(Aplauso)

Esta atração por objetos não funciona apenas em objetos de celebridades. Cada um de nós, a maior parte das pessoas, tem algo na vida que é literalmente insubstituível, que tem valor por causa da sua história — talvez sua aliança de casamento, talvez os sapatinhos do seu filho — de tal modo que se perdê-los, você não vai conseguir de volta. Você pode conseguir algo que pareça ou se comporte igual àquilo, mas você não vai conseguir o mesmo objeto de volta. Com meus colegas George Newman e Gil Diesendruck, nós procuramos saber quais tipos de fatores, que tipo de história, conta para os objetos que as pessoas gostam. Então em um de nossos experimentos, pedimos às pessoas para dizer um famoso a quem eles adoravam, uma pessoa viva que eles adoravam.

E a resposta foi George Clooney. Então nós os perguntamos, “Quanto você pagaria por um suéter do George Clooney?” E a resposta é uma quantidade razoável — mais do que você pagaria por um suéter novo ou por um suéter que pertenceu a alguém que você não adora. Então nós perguntamos a outros grupos — nós criamos restrições diferentes e condições diferentes. Por exemplo, nós dissemos a alguns, “Olha, você pode comprar este suéter, mas você não pode dizer a ninguém que você o tem e você não pode revendê-lo.” E isso diminui o seu valor, sugerindo que esta uma razão pela qual nós gostamos daquilo. Mas o que realmente causa um efeito é dizer às pessoas, “Olha, você pode revendê-lo, você pode se vangloriar, mas antes de você recebê-lo, ele vai ser muito bem lavado.” Isso causa uma tremenda perda de valor. Como disse minha mulher, “Você lavou os piolhos Clooney.”

(Risos)

Então vamos voltar para arte. Eu amaria um Chagall. Eu adoro o trabalho de Chagall. Se alguém quiser me dar algo no final da conferência, você pode me comprar um Chagall. Mas eu não quero uma cópia, mesmo que eu não possa notar a diferença. Isso não porque ou não simplesmente porque eu sou um esnobe e eu quero me vangloriar de ter um original. Mas sim porque eu quero algo que tenha uma história específica. No caso de trabalhos de arte, a história é realmente especial. O filósofo Denis Dutton no seu maravilhoso livro “Arte e Instinto” diz que, “O valor de um trabalho de arte tem raízes nas hipóteses sobre a performance por trás da sua criação.” E isso pode explicar a diferença entre um original e sua falsificação. Eles podem parecer iguais, mas têm histórias diferentes. O original é tipicamente o produto de um ato criativo, a falsificação não é. Eu acho que esta abordagem pode explicar as diferenças no gosto das pessoas pela arte.

Este é um trabalho de Jackson Pollock. Quem aqui gosta do trabalho de Jackson Pollock? Ok. Quem aqui não liga para eles? Eles apenas não gostam. Eu não estou aqui para julgar quem está certo, mas eu vou fazer um julgamento empírico, sobre a intuição das pessoas, que é, se você gosta do trabalho de Jackson Pollock, você tenderá mais a acreditar do que as pessoas que não gostam, que esses trabalhos são difíceis de se criar, de que eles necessitam de tempo e energia, e energia criativa. Eu uso Jackson Pollock com o propósito de um exemplo porque há uma jovem artista americana que pinta muito no estilo do Jackson Pollock, e seu trabalho valia muitas dezenas de milhares de dólares — principalmente porque ela é uma artista muito jovem.

Está é Marla Olmstead que fez a maior parte do seu trabalho quando tinha três anos de idade. O interessante sobre Marla Olmstead é que a sua família cometeu o erro de convidar um programa de televisão “60 minutos” à casa deles para filmá-la pintando. E eles mostraram que seu pai a estava guiando. Quando isto saiu na televisão, o valor de sua arte caiu para nada. Era a mesma arte, fisicamente, mas a história havia mudado.

Eu estou focando agora em artes visuais, mas eu quero dar dois exemplos de música. Este é Joshua Bell, um violinista muito famoso. O reporter Gene Weingarten do Washington Post decidiu alistá-lo para um experimento audacioso. A pergunta é: quanto as pessoas irão gostar de Joshua Bell, da música de Joshua Bell, se elas não souberem que estão ouvindo ao Joshua Bell? E então ele fez com que Joshua Bell pegasse seu violino de um milhão de dólares e o levasse para uma estáção de metrô de Washington – DC e ficasse num canto para ver quanto dinheiro ele ganharia. E aqui está um breve clipe disso. (Música de violino) Depois de ter ficado lá por 45 minutos, ele ganhou 32 dólares. Nada mal. Mas também não é bom. Aparentemente para realmente curtir a música de Joshua Bell, você tem que saber que está ouvindo ao Joshua Bell. Ele na verdade ganhou 20 dólares mais do que isso, mas ele não contou isso. Porque essa mulher chegou — você vai ver no final do vídeo — ela chega. Ela o havia ouvido na biblioteca do congresso algumas semanas antes neste evento extravagante de gala. E ela ficou estupefata que ele estava numa estação de metrô. Então ela ficou com muita pena. Ela pega sua bolsa e lhe dá uma nota de 20.

(Risos)

(Aplauso)

O segundo exemplo da música é de uma composição do modernista John Cage. “4:33″.” Como muitos de vocês sabem, esta é a composição onde o pianista senta num banco, abre o piano o fica lá sem fazer nada por quatro minutos e 33 segundos — este período de silêncio. E as pessoas têm diferentes visões disso. Mas o que eu quero mostrar é que você pode comprar isso no iTunes. (Risos) Por 1,99 dólares, você pode ouvir este silêncio, que é diferente de outras formas de silêncio.

(Risos)

Eu falei até agora sobre prazer, mas eu quero sugerir que tudo que eu falei até agora, também vale para a dor. E como você pensa sobre o que está experenciando, suas crenças sobre a essência disso, afeta como dói. Um experimento adorável foi feito por Kurt Gray e Dan Wegner. O que eles fizeram foi ligar graduandos de Harvard a uma máquina de choque elétrico. E eles os deram uma série de choques elétricos doloridos. Era uma série de cinco choques doloridos. À metade deles foi dito que eles estavam levando choques por alguém em outra sala, mas a pessoa na outra sala não sabe que está dando choque neles. Não há malevolência, eles estão apenas apertando um botão. O primeiro choque é registrado como muito dolorido. O segundo choque parece menos dolorido, porque você fica acostumado. O terceiro menos, o quarto, o quinto. A dor diminui. Na outra condição, lhes dizem que a pessoa na outra sala está dando choque de propósito neles — sabe que está dando choque neles. O primeiro choque dói para diabo. O segundo dói o mesmo tanto, e o terceiro e o quarto e o quinto. Dói mais se você acreditar que alguém está fazendo de propósito.

O exemplo mais extremo disso é que em alguns casos, a dor sob determinadas circunstâncias pode se transformar em prazer. Humanos têm essa propriedade extraordinária de procurar pequenas doses de dor sob circunstâncias controladas e ter prazer disso — como comer pimentas picantes e andar em montanhas-russas. O ponto foi bem colocado pelo poeta John Milton que escreveu, “A mente é seu próprio lugar, e por si pode fazer um céu do inferno, e um inferno do céu.”

E com isso eu termino. Obrigado.

(Aplauso)

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